O primeiro dia sem Daniel por perto não fora fácil para ela, mas a expectativa de começar em breve as aulas avançadas de salsa, de certo modo, dava-lhe ânimo. No telefonema que recebera antes da hora de jantar, decidira não contar nada sobre o curso a Daniel e muito menos do aperto que sentia no peito. Ele precisava do seu apoio para conseguir seguir em frente e vingar no novo projecto. Precisava concentrar-se na sua aventura e não ficar preso ao que havia ficado para trás.
- Correu bem, Mara. Estou cansado e com dores nas costas, mas a temperatura daqui compensa.
- Pois, bem mais amena que aqui, imagino – continuou Mara, fazendo um esforço sobrenatural para que a sua voz suasse o mais natural possível.
- Bem mais! Desculpa não falar muito, mas agora vou ter de ir dormir, Mara. Amanhã vou ter um dia em cheio e quero começar com energias carregadas
- Ok – respondeu Mara com uma lágrima a escorrer-lhe pelas faces. Não queria deixar de ouvir a sua voz. O nó subira-lhe à garganta parecendo sufocá-la.
- Avisa o pessoal aí que cheguei bem e que mando noticias assim que assentar. Fica bem, Mara.
- Tu também. Vai ligando quando puderes.
Quando desligaram a chamada, Daniel ia já deitar-se. No Rio de Janeiro era bem mais tarde que em Londres. Mara não conseguiu evitar a torrente de lágrimas que se soltaram. Deixou-se chorar enrolada no sofá da sala até não ter mais lágrimas. Sem vontade para jantar, aqueceu um chocolate bem espesso e entregou-se ao prazer de o sentir deslizar aquecendo-a por dentro, compensando em parte o vazio que sentia.
No dia seguinte teria um dia atarefado na Booky com muitos projectos simultaneamente em fase final. Mas ao final da tarde teria a primeira aula de Salsa no Soho. Fixou-se nesse pensamento, planeando mentalmente a roupa que combinaria e revendo o plano de aulas que os organizadores lhe haviam enviado. Sem o seu par habitual, Mara teria de encontrar um novo parceiro e esperava que ele estivesse à altura. Nunca seria como dançar com Daniel, mas era com isso que nessa noite sonharia.